
SINOPSE DE PARTIDA
Os rios atiram as águas da memória em múltiplos sentidos, sem se preocuparem com os avisos perpetuados na sua margem pelas entidades mais conscientes e omnipresentes.
Nas estradas consomem-se vaidades e estrelas de quatro rodas que nos atiram contra o sentido da vida, sem remorsos.
No ar voa a imaginação, os aviões e demais veículos aéreos que nos submetem a verdadeiras passagens para o esquecimento.
E quanto aos mares, meu deus, quanto aos mares… Depois dos descobrimentos ficámos conversados…
Mas, na ferrovia, perdura o mito das grandes viagens, quando todos os mapas eram misteriosos e todas as cidades, países e montanhas do mundo ficavam imensamente longe.
Os comboios eram o derradeiro imaginário de um sentido multicultural e específico da vida.
Eram a Viagem com V grande.
Não!
No nosso imaginário a ferrovia nunca foi um caminho e os comboios também nunca foram um meio de transporte.
Nesse tempo, viajar era do domínio dos sonhos. Era partir!
E só a partida já valia a pena. A viagem era o objetivo, o mito e o grande acontecimento.
Onde vais? Perguntavam invariavelmente. Vou partir! Respondíamos. E todos sabíamos do que estávamos a falar.
Seguíamos, assim, um rumo sem rumo e sem desvios, presos àquelas linhas irremediavelmente fixas, mas que nos traziam tanta, mas tanta liberdade… numa verdadeira corrida a favor do tempo.
Por outro lado, temos a outra corrida, a corrida pela porca e pelo parafuso. Acompanhar as alterações da via, fazer a manutenção do mundo e planear os desvios anunciados.
Correr sobra as travessas de madeira, identificando os números dos pregos que nos prendem à realidade e sonhando com tempos mais auspiciosos.
E os homens correm… como sempre correram e como sempre irão correr. Umas vezes de mala na mão, outras de ferramenta na mão. A mala justificando a ferramenta e a ferramenta justificando a mala.
De vez em quando a linha é interrompida, os sinais dão o alerta, o relógio arranca e o homem corre. Corre atrás da porca e do parafuso, os derradeiros símbolos de uma indústria mecânica dos sonhos. O analógico antes do digital. A corrida do amor sanguíneo, antes da corrida de um hipotético amor virtual.
E nós cá estaremos, tentando perpetuar os materiais, as linhas, a viagem e sobretudo a partida.
Esta noite vamos embarcar na Linha 3, perdidos na ferrovia, no mundo e numa verdadeira corrida contra o tempo…
Cardoso 2019
CARDOSO
Cardoso (António José Marques Cardoso)
Nasceu em Mação.
Exerce atualmente a profissão de Professor Bibliotecário e Professor de Educação Visual no Agrupamento de Escolas Rainha D. Leonor em Lisboa e é membro fundador da Confraria do Vinho da Chave Dourada, fazendo parte da direção.
Artista plástico, Investigador e Professor, tem como formação básica: Design Gráfico (pela Universidade Lusófona), Gestão de Informação e Comunicação Educacional (pela ESSE de Setúbal), Mestrado em Desenvolvimento de Produtos de Turismo Cultural (pelo IPT – Tomar).
Frequentou, ainda, o curso de pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (falta uma cadeira para terminar o 3º ano).
Exerceu ainda a função de formador de professores do ensino superior na área de comunicação interactiva, em Angola, na Escola Superior Pedagógica do Bié.
Foi formador do IEFP: Disciplinas de “Desenho de Comunicação e Publicidade”, “Desenho Gráfico e Teoria do Design” e “Prática Simulada de Comunicação”.
Trabalhou, também, em várias agências de publicidade executando catálogos, capas de livros, cartazes e vários outros trabalhos na área do design gráfico e web design.
É proprietário da Galeria on-line “Projeto Arte Agora” (www.projetoarteagora.com), sediada em Alcochete, escrevendo regularmente artigos para vários órgãos de comunicação social sobre património, arte e turismo cultural, tendo publicado vários livros sobre estes temas.
Desenvolve, ainda, trabalhos na área da escultura, da poesia, da animação cultural e do cinema de animação, onde trabalhou essencialmente com alunos do 7º ano de escolaridade, chegando um dos filmes a ser selecionado e exibido no Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho. Em Mação faz parte da direção executiva do FICA – Festival Internacional de Cinema Arte.
Como artista plástico expôs pela primeira vez em Abrantes, onde estudava à época, e pela segunda vez em Mação no Museu Dr. João Calado Rodrigues. Em 2018 celebrou os 40 anos de artes plásticas com uma exposição retrospetiva na sua terra natal, Mação. Entretanto, expôs um pouco por todo o país, destacando-se as seguintes exposições: na Golegã no Equuspolis (Museu Mestre Martins Correia), e em Lisboa na Sociedade Nacional de Belas Artes, Galeria Artiguidades, Galeria do CHPL, Galeria Fábula Urbis e Galeria ABC.
Está representado em várias coleções institucionais e particulares, em Portugal e no estrangeiro.
Tem atualmente o seu atelier de artes plásticas em Alcochete onde reside.
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